domingo, 6 de março de 2011

Manifesto contra o medo*

[um texto meu quase a fazer dez anos, no entanto ainda actual]


Perguntava-me um colega de profissão, depois de ler um dos meus últimos textos publicados: “Não estás a pensar candidatar-te a nenhum cargo público nos próximos vinte anos, pois não?”

Que terei eu dito de tão grave para motivar a pergunta? Limitara-me a denunciar uma situação, relatando nada mais que a verdade. Um escândalo!!
Ainda sobre o mesmo assunto disseram-me: “Prepara-te para as reacções. Vais sofrer muitas pressões.”
O medo atrofia o pensamento e a acção.
O medo limita, quando não mata, a criatividade, a crítica.
Hoje teme-se tudo e todos.
Poucos são aqueles que ao escreverem não medem as palavras, com receio que lhes venham pedir contas.
Não pensem que falo de medir as palavras quanto a difamar a alguém, falo do direito em reivindicar o que é justo, de denunciar situações anómalas.
Não há censura política, mas a censura económica – pressão/coacção económica – sente-se, sendo primordialmente causada pelas grandes (e pequenas) concentrações dos meios de comunicação social: periódicas (revistas e jornais), rádios e televisões.
O maior problema que a censura acarreta, seja ela explícita ou implícita, directa ou indirecta, imposta ou auto-imposta, é a auto-censura.
Nota-se frequentemente que, muitos autores de textos, assinam com siglas, pseudónimos, ou nem sequer assinam, ou quando se trata de cartas dos leitores, muitas vezes aparece: “leitor devidamente identificado”.
Para lutar contra isto, assino sempre com três (dos meus seis) nomes: Luís Norberto Lourenço, para não ser confundido com mais ninguém, serei sempre eu o responsável, para o bem e para o mal, pelo que digo e escrevo.
Também nas entrevistas (inseridas em reportagens), muitas [os] dos entrevistados – quando não se recusam a sê-lo – tapam a cara não por ter vergonha de ter feito algo errado, mas por medo de falar, quando denunciam certas situações, temendo ser prejudicados.
Defendo o combate ao medo.
Só se pode combatê-lo, falando, escrevendo, criticando, indignando-se, provocando-se e [,] subvertendo se for preciso e publicando clandestinamente.
Ter medo aumenta-o.
Não ter medo diminui-o.
A intervenção, a crítica crítica (crítica construtiva), o inconformismo, são o sal da Democracia.
Talvez, eu só não tenha medo porque sou inocente ou ingénuo, quiçá louco ou suicida.
Os ditadores não gostam dos loucos lúcidos, também Erasmo no seu “Elogio da Loucura” não gostava propriamente dos ditadores do seu tempo (diria de todos os tempos), talvez porque os loucos pensem e actuem “demasiado” livremente.
O único medo que tenho é: ter medo de ter medo.
Falar e escrever livremente devia ser o mais normal numa sociedade democrática, mas pelos vistos, nem nestas nos podemos exprimir livremente, sendo que quem o faz, é para uns, um alvo a abater e para outros um herói.
Falar é preciso, sem medo!
Não me calarei!
Não me calarão!
Por nós, contra o medo… defendo a Abolição do Medo

Luís Norberto Lourenço

· Publicado no “Reconquista”, "Gazeta do Interior", "Fonte Nova", "O Distrito de Portalegre" e "Imenso Sul" em Maio de 2001.

Ver também em:
http://republicalaica.blogspot.com
http://cctertulias.blogs.sapo.pt
http://casacomumdastertulias.blogspot.com
http://fanzinetertuliando.blogspot.com
http://casacomumdastertulias5out2001.planetaclix.pt
http://centro-de-estudos-socialistas.blogspot.com
http://socialismo.blogcindario.com
http://luisnorbertolourenco.blogs.sapo.pt

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Amores Secretos

Que saudades daqueles amores secretos,
Daqueles beijos roubados,
das mãos fugidias,
dos risinhos, das risotas.
A ânsia de te ver,
o desejo de te encontrar.
De tornar quente o mais frio
dia de Janeiro.
Aquecido naquele abraço apertado
que nos rouba o fôlego e o devolve em seguida.
Nesse abraço que não deixa espaço
para a dúvida, para cobranças, para medos.
Quem ama não tem medo.
Medo de quê? De amar, de se entregar, de sonhar.
Que o amor é eterno.
Na sua eternidade limitada.
Mas infinita enquanto o meu coração
chamar o teu nome…

Agosto 2010

Ana Rodrigues

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Querida Escrita

Minha prosa
Meu poema
Meu verso
Meu sonho
Minha liberdade

És tu que me chamas
E pedes que te dê vida
E te deixe falar e gritar
Com as minhas palavras
Que, afinal, são só tuas.

Tu é que as vais chamar
E as trazes todas até mim
Em ideias, sentimentos e desejos
Para que eu as pense e escreva
E, assim, as possas dizer e libertar.

São tuas, as palavras e o que dizem.
Dou-tas, todas, tal como as segredaste
Para que as guardes, semeies e repartas
Entregando-as a quem por aqui passar.

Assim, hão-de germinar e fazer nascer
Novas ideias e outros sentires e desejos
Feitos prosa, poema ou simples verso
Mas sempre, sempre, sonho e liberdade!

A.R. 29 de Agosto - 2010

Arinda Rodrigues

sábado, 28 de agosto de 2010

Lembranças


Momentos vividos e recordados
Uns desejados outros sofridos
Recordações, tantas!
Teimam em ficar e permanecer
Agarram-se sem remorso e sem dó
À pele, ao sentir, à vida e à alma.

As boas e felizes
Povoam o presente
Dão cor e alegria à vida
E enchem de fé o futuro.
Fazem-me incauta,
Corajosa e confiante.

As outras, essas, pesam
Arrastam consigo a mesma dor
São feridas sentidas na alma
Feitas inquietude e temor.
Erguem-se nos meus muros
Tolhem a vontade e os sentidos

E não me deixam sair nem sonhar.

As felizes e as outras
Estão em tudo o que sou
No que espero e desespero
No que procuro e sempre adio
No que desejo e ainda afasto
No que quero e não aceito
Lembranças…
Entranham-se e ficam, ficam
E nunca vão.

Quem me dera, às vezes,
Esquecê-las ou mesmo não tê-las.
Espantar a memória de toda a dor
Recomeçar com dias novos
Inteirinhos e todos por estrear
E poder confiar e crer e sentir
E então, sim, partir e ser e amar!


Agosto 2010 


Arinda Rodrigues

Fim de Tarde

O sol esconde-se atrás das pequenas elevações, que se estendem para oeste, e brinca às escondidas por entre as oliveiras muito alinhadas que enfeitam as suaves vertentes, elementos naturais dispostos por mão humana que, assim, altera a Natureza e a molda segundo os seus objectivos.
No sentido oposto, não muito longe, brilha a elegante estrutura branca que sustenta a ponte internacional. Vencido o Guadiana, desemboca na vizinha Espanha e estreita ainda mais os laços que duram há séculos. Apesar das diferenças e lutas travadas por objectivos opostos e, tantas vezes, por orgulho e cobiça, o que perdura são as relações de cooperação.
Para sul, o mar. O extenso e profundo oceano Atlântico que foi limite, desafio, chamamento e, por nós, se fez estrada aberta para o mundo.
Na varanda e diante desta paisagem, penso nos “momentos” difíceis, às vezes dolorosos, sempre desafiadores, pelos quais passei. Foram ultrapassados, deixando-me mais madura, mais forte, mais tolerante e mais feliz.
A fé foi uma grande ajuda. Ainda hoje estou convencida que o meu esforço foi sempre multiplicado por outra força, a que gosto de chamar Deus e à qual me costumo confiar e confio os que mais amo.
Nesta minha caminhada, descobri que há anjos, geralmente disfarçados de amigos, que aparecem nos momentos certos. A mim foram-me enviados alguns, sem os quais não teria conseguido vencer a etapa mais difícil e mais desafiadora da minha vida.
Não é fraqueza aceitar a ajuda desses seres portadores de força e coragem. Pelo contrário, é sabedoria. Eles trazem consigo a presença de quem (Deus, universo, ser infinito, mãe Terra?) vela por nós, no silêncio da discrição e na luz do amor, e que nos dá a sensação de não estarmos sós, de que alguém nos cuida com carinho, oferecendo-nos a segurança da sua protecção.
Gosto de pensar que também já fui anjo na vida de algumas pessoas – ponte de força e de amor. É muito bom ser anjo e sentir-me agraciada com a presença de outras pessoas que também o são, pela sua atenção aos outros e bondade natural, pela sua verdade interior e pelo seu coração aberto.
Neste fim de dia, ao despedir-me dos últimos raios de sol, penso em todos eles e agradeço.
O sol já se pôs completamente. Amanhã voltará. A luz volta sempre para vencer a escuridão. No início foi luz e, no fim, só sobrará a luz!
Graças!

Arinda Rodrigues 

Há pessoas...

Há pessoas que nos tocam
mesmo que nada façam,
ainda que pouco falem,
Porque dizem outras palavras…
…com o rosto…
…com o sorriso…
…com o olhar…
….e principalmente, com a luz que irradiam.
São palavras diferentes.
São palavras especiais.
Se encontramos uma dessas pessoas,
queremos que fique e nos acompanhe.
Queremos receber a sua luz
e aprender a mesma linguagem.

                                              Arinda